No ultimo mês de fevereiro visitei a feira de iluminação e mobiliário de Estocolmo, na
Suécia, que é a primeira grande feira de design do ano. É também a referência mundial
em design escandinavo, leia-se minimalista.
Este ano, os móveis evidenciaram a retomada da marcenaria tradicional escandinava.
Tema inclusive verbalizado por várias empresas.
Em vez de extrema experimentação ou opulência, notava-se uma preocupação com o
conforto e aconchego.
Com peças de encaixes apenas em madeira clara, ou com pouca mistura de materiais,
seja metal com tecido ou madeira, ou madeira com tecido, a essência da linguagem
minimalista foi mantida, e isso ressalta o desenho das peças.
E por falar em desenho, havia também peças de design arrojado. Seja com o uso de
cores, materiais diferenciados (e aqui sim com maior mix de revestimentos), ou novas
tecnologias, como impressões 3D. A inovação estava presente principalmente na área
de iluminação.
Outro ponto de destaque para todos os estilos é a preocupação com a
sustentabilidade. Pode ser na reutilização de materiais, forma de produção, peças
duráveis que evitem o rápido descarte, ou no design atemporal. A sustentabilidade é
sempre mencionada e demonstrada como cada empresa aborda este tema, que na
Escandinávia, como um todo, é de grande atenção e importância.
Além da feira, na mesma semana ocorreu a Design Week local, com muitos eventos
de arquitetura e design por toda a cidade. Inclusive algumas marcas locais optaram por
montar showrooms em locais diferenciados da cidade, como em mansões, museus e
galerias com seus lançamentos, ao invés de stands na feira.
Minha percepção é que existe um movimento de resgate, talvez cultural, em várias
partes do mundo. Assim como no Brasil houve um movimento de êxodo das grandes
cidades para cidades menores após a pandemia, que de certa forma resgata antigas
formas de viver, vi um movimento similar na retomada de trabalhos mais artesanais,
que remetem a uma forma de viver mais acolhedora, menos tecnológica, e talvez
impessoal.
De uma forma ou de outra, existe uma busca por raízes.
E porque eu escolhi essa feira para visitar e não outra grande feira, talvez mais
visitada? Por vários motivos…
A começar por eu apreciar o design nórdico, também sigo um estilo mais minimalista
na criação das minhas peças de mobiliário, e especialmente para sair do lugar comum.
Se a ideia é aumentar o repertório e buscar novas referências e tendências, buscar
informações diferenciadas pode ser muito mais interessante do que trazer os mesmos
conhecimentos que boa parte do mercado – caso o desejo seja se diferenciar.
Claro que toda feira tem sua importância e peculiaridade, por isso a escolha de qual
visitar, deve ter conexão com seu estilo e objetivos.
Além disso, a cada ano o estilo minimalista e a preocupação com a sustentabilidade
ganham mais espaço e visibilidade, especialmente para as novas gerações, que são os
novos e futuros consumidores.
Considero muito vantajoso visitar feiras, especialmente as do exterior. As diferenças
culturais, ou os diferentes materiais disponíveis, tornam essa experiência rica em
identificar a criatividade dos artesãos e designers locais, ou formas distintas de
resolver os mesmos problemas. Ainda, tudo isso serve de repertório e material de
pesquisa para novas soluções, alinhadas as demandas do mercado de atuação, ou
melhor ainda, ao mercado globalizado. Lembrando que hoje, muitos materiais
utilizados em produções nacionais, não são nacionais.
Além do repertório técnico ao analisar as peças e lançamentos, é uma ótima
oportunidade para aprimorar o networking. Entrar em contato com novos
fornecedores e se diferenciar em oferecer algo mais para seu mercado, e conhecer
como se dão as negociações com outras culturas, também contribui muito para o
enriquecimento das suas técnicas de negociação.
Ter a oportunidade de analisar quais as tendências e caminhos que o mercado externo
está trilhando, é dar um passo a frente no seu mercado, e se antecipar aos
lançamentos locais.
E claro, a decisão de se antecipar ou não ao seu mercado, quais conhecimentos buscar
e onde, devem estar sempre alinhados ao seu negócio e seus objetivos.
Gabriela Moreira – Arquiteta e designer
Finalista 3º Design Tank
@d2c_arquitetura